sexta-feira, 27 de março de 2015

E a crueldade e a verdadeira maldade fez mais vítimas. Desta vez, muitas...

"Ei cara, dor de amor não mata ninguém! Ahã... Sei... CLICK."

          Esta semana, o mundo assistiu perplexo a queda deliberada de um Airbus A320 da Germanwings. Os jornais tentaram explicar o que pareceu inexplicável. As pessoas do mundo todo criticaram e chamaram o co-piloto, comandante Andreas Lubitz, de assassino, louco e outras tantas denotações pejorativas.

Deixo claro aqui que não aprovo de forma alguma o ato desesperado que ele cometeu, que tirou a vida de pelo menos 149 pessoas que "não tinham nada a ver com o peixe", destruiu muitas famílias, muitos sonhos e é claro, muitos outros futuros. Mas também não posso deixar de citar o fato de que todos estão falando do resultado e esquecendo de falar da causa. Enquanto a causa não for curada, casos assim irão ocorrer todos os dias. (Na verdade, já acontecem, mas como a maioria dos suicídios não vai parar na mídia, pouca gente fica sabendo. Alguém lembra da Amy Winehouse? Então...)

Porém, a grande pergunta que não quer e não vai calar nunca é: O que passava pela cabeça do rapaz naquele momento? Que dor tamanha era essa que leva uma pessoa a um desespero tão grande?

Aqui no blog, essa questão da dor já foi tratada. É o tipo de dor que já foi descrita como sendo a pior de todas as dores, pois mata a felicidade por dentro, sem chance de retorno.

A maioria das pessoas é incapaz de entender o que acontece quando uma pessoa está deprimida, principalmente pelo mal causado pela pessoa amada que simplesmente rasgou uma relação e foi embora. Muitos chamam de "frescura", outros apenas riem, alguns, ainda mais cruéis dizem que "já deu...", e mais alguns tentam ajudar, sem saber direito o que fazer. Mal sabem estas pessoas, que tais atitudes apenas pioram a situação. Quanto mais falarem pra pessoa esquecer, mais ela vai se lembrar do assunto.

Mas então, fica a dúvida: Não há nada que se possa fazer?

Sim, há!

Falar com a pessoa que causou tudo isso, no caso acima citado, a namorada do Andreas. Apenas ela teria evitado tal tragédia. Apenas ela teria curado a dor no coração dele. Apenas ela teria o poder de devolver o sorriso a ele. Se não houvesse tanta crueldade da parte dela, todas aquelas pessoas ainda estariam vivas.

Em um mundo realmente justo, seria lembrada a célebre frase de Antoine de Saint-Exupéry que diz:

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

No fundo, poucos entendem a importância dessa frase, e o que ela realmente quer dizer. As pessoas tendem a terminar um relacionamento do nada e com isso, tratar a outra pessoa como lixo. Muitas vezes, essas pessoas esquecem que as outras pessoas não são lixo, são pessoas. Não se pode jogar alguém fora quando bem se quer, não se pode terminar algo deixando todas as pontas soltas.

A importância de valorizar o que se cativa, termo esse que, com muita adequação, deveria ser aplicado a todos nós, essa responsabilidade que necessitamos exercer a quem se torna importante em nossas vidas, muitas vezes é deixada em conta a favor do nosso egoísmo e prepotência. É extremamente contundente perceber o quanto podemos deixar certas tarefas necessárias ao bom relacionamento de lado, finalizar relações e deixar com que as melhores lembranças e até mesmo o ser que participou com você de todas trocas e aprendizagens morra, se vá, como se o descarte fosse algo apropriado e mais indicado pra se fazer. É triste, cruel e decepcionante depois de ser cativado por alguém simplesmente perceber que a responsabilidade com que a pessoa que o fez deveria assumir, acaba se resumindo em uma falta de sensibilidade a ponto de transformar tudo aquilo que um dia foi vivo, em algo morto, inanimado. Esquecendo suas boas qualidades e as trocas que foram feitas durante dias, semanas, meses e anos de convívio. Toda a beleza que um dia foi exercida no contato com os seres cativantes, vão imediatamente sendo exterminadas em um tempo breve e insignificante, diante da grandiosidade que os dois representaram pra si mesmos.

Afinal, o que somos além de frágeis?
O que somos senão a própria "obsolescência programada" em pessoa?

Em um mundo ideal, quem fizesse isso teria que arcar com as consequências legais de tais atitudes. Mas infelizmente não é isso que ocorre. Vivemos em um mundo cruel, cheio de crueldade, cheio de pessoas cruéis. E sabemos a muito tempo que o mal venceu a primeira batalha.

Em um mundo ideal, a namorada do Andreas seria co-responsabilizada por todas as mortes dos passageiros daquele vôo.

Tudo que podemos fazer, é lutar para que um dia esse mundo se torne um lugar melhor para vivermos, ou procurarmos outro mundo, para lá tentarmos outra vez.

Mas é importante também, ressaltarmos o fato de que todas as pessoas que passam ou já passaram por esse tipo de maldade, morrem por dentro. A questão do suicídio apenas altera a velocidade com que as coisas ocorrem.

Eu mesmo já passei por isso e em um momento, um único segundo, decidi que eu deveria ir de forma lenta, pois tinha a responsabilidade de mostrar a todos os males causados pelo desamor. Essa escolha se deu também no comando de uma máquina veloz, onde tudo se torna fácil, rápido e extremamente eficiente. Bastaria um movimento e tudo estaria acabado. Nestas horas, um segundo se passa extremamente devagar. Em apenas um segundo você revive dias, meses e até anos. Em apenas um segundo você ri, chora, se alegra, se entristece e morre. E apenas depois disso vem o "click" da decisão.

Algumas pessoas, como eu, apenas resolvem esperar a hora chegar e vai levando a vida, sem muitos objetivos. Apenas esperando.

Outras, resolvem fazer de outra forma. Esperam o momento certo de ir embora. Quando esta decisão é tomada, quem está à volta nada percebe. Tudo fica normal, como se nada tivesse acontecido...

No caso do vôo 9525 da Germanwings, isso ficou bem claro. Nos registros do gravador de voz, estão lá, 16 minutos de conversas normais, então, por 10 minutos, as conversas se tornam extremamente formais. (Possívelmente, foi nesse momento, antes dos 10 minutos de conversas estritamente formais que a decisão final foi tomada.). Após este período, o piloto, comandante-capitão Patrick Sondenheimer se ausentou da cabine para ir ao banheiro. Pronto, foi o estopim final para a ação. Tudo que se pôde ouvir no gravador de voz após isso, foi a respiração calma e firme de Lubitz e as batidas na porta do resto da tripulação. Nos segundos finais, houveram gritos de todos, menos de Lubitz.

E aqui fica a pergunta que muitos não sabem a resposta: No que ele pensava nesta hora?

E a resposta é: Em nada. Posso apostar que ele apenas ajustou o piloto automático para a altitude mínima, colocou alguma música calma nos fones, apertou o "exec" que faz com que o avião execute o comando dado, fechou os olhos e apenas esperou a morte do corpo, pois no fundo, ele já não estava mais ali. E nada, não pensa em nada.

E essa foi a morte do corpo. Pois graças a uma pessoa cruel, o coração dele já estava morto a vários dias. A felicidade o abandonou, a tristeza tomou conta e o resto ficará na história.

Como sei de tudo isso? Além de entender mais do que o suficiente de aviões, sei muito bem pelo que ele passou, pois passei por tal situação também.

Seu ato não foi correto, seu ato foi desesperado e desproporcional, mas jamais irei julgar seus motivos.

E esse apenas foi mais um, nem o primeiro, nem o último... Enquanto a consciência das pessoas não mudar.

Eu, prefiro lembrar deste vôo assim:



Abraços a todos.

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